Inteligência artificial amplia diagnóstico de doenças oculares
Os problemas de visão estão entre as principais questões globais de saúde pública. O acesso aos cuidados médicos para grande parte dos brasileiros está cada vez mais difícil. Diante disso, o que esperar quando o assunto é saúde ocular? A boa notícia é que a oftalmologia foi a primeira especialidade médica a ter acesso à inteligência artificial.
Segundo o oftalmologista, Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, a inteligência artificial é um software instalado em um equipamento médico que funciona em conjunto com uma Tomografia de Coerência Óptica (OCT), equipamento que gera imagens 3D da retina. No Brasil a inteligência artificial ainda não se popularizou, mas para o médico deve ser incorporada em breve pelos hospitais e pode diminuir as longas filas de atendimento nos serviços do SUS e a perda da visão, mais frequente entre pessoas de menor renda.
Como funciona
Para funcionar, o software é alimentado por um banco de dados da tomografia óptica e transforma esta informação em algoritmo, que determina a condição de saúde da retina. Por isso, a inteligência artificial pode funcionar com autonomia, permite realizar diagnóstico à distância, ajuda a indica o tratamento e automatiza o acompanhamento médico. O resultado é que pode ampliar o acesso aos cuidados médicos, reduzir bastante o custo social e de tratamento.
Primeira tecnologia
O oftalmologista afirma que o envelhecimento acelerado e a falta de exames oftalmológicos periódicos em mais da metade da população brasileira, está aumentando a deficiência visual grave no país. Para se ter ideia a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que 80% dos distúrbios cardíacos e de circulação desencadeiam diabetes, hipertensão, trombose e colesterol alto que podem provocar doenças na retina.
O especialista ressalta que a maior causa de cegueira na população economicamente ativa é a retinopatia diabética. O oftalmologista conta que a primeira plataforma de inteligência artificial autônoma aprovada em abril deste ano nos EUA pelo FDA, agência similar à ANVISA no Brasil, foi o IDx-DR, um sistema voltado para atenção primária em retinopatia diabética. A aprovação aconteceu depois de um estudo com 900 portadores de retinopatia diabética em que ficou demostrada a precisão do diagnóstico em 96,1% dos participantes.
Evolução
O oftalmologista conta que no terceiro trimestre deste ano, pesquisadores de dois hospitais ingleses, em parceria com a Deepmind, subsidiária da Google, anunciaram um software de inteligência artificial capaz de detectar mais de 50 doenças na retina. Segundo os pesquisadores, o software foi testado em 15 mil exames de OCT e o teste de diagnóstico da tecnologia comparado ao de um painel, composto por oito médicos, revela que em 94% das vezes as recomendações foram idênticas.
“No mundo são 285 milhões de pessoas cegas por doenças na retina. Por isso, é indiscutível a contribuição desta tecnologia para o bem-estar social, pondera Leôncio Queiroz. Apesar de alguns especialistas não verem com bons olhos a inteligência artificial na oftalmologia, para o especialista é a forma mais econômica de levar atendimento médico de qualidade para os recantos do Brasil.
A estimativa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) é de que, pelo menos, 1 milhão de brasileiros tem grave redução da visão por doenças na retina e o Deepmind pode contribuir com a triagem dos que estão correndo risco de perder a visão. A intenção dos pesquisadores é desenvolver uma ferramenta capaz de prevenir as doenças retiniana antes que surjam os primeiros sinais.